Oi pessoal!
Achou exagerado dizer que são as periferias decidem o novo prefeito da capital paulista? Pois não é. Essa avaliação vem de diferentes estudiosos periféricos que foram entrevistados pela Agência Mural durante a cobertura das eleições municipais.
Nas quebradas estão a maioria dos eleitores de São Paulo - só aí a gente já tem uma ideia do quão estratégicas são essas regiões. Mas elas também indicam fortes tendências de comportamento e percepção da população com a política municipal e nacional
Não à toa, a campanha do segundo turno se concentrou muito nas quebradas - quando teve luz para isso. Afinal, algumas famílias das periferias chegaram a passar até cinco dias sem energia elétrica após uma tempestade atingir a Grande São Paulo (e encontrar a região sem ações de prevenção, com podas de árvores atrasadas e com uma empresa de energia com grande dificuldade de atender à população). Foram muitas perdas e transtornos, que a Mural apurou, relatou e denunciou.
E como essa é uma das principais funções do jornalismo, a gente traz uma história tão urgente quanto triste: uma criança ficou por mais de um ano internada em um CAPS de Diadema, na Grande São Paulo, sem que o equipamento fosse voltado para isso. Ela dormia em um consultório médico e passou longos períodos sem ir para a escola.
Essa foi uma das apurações mais delicadas que fizemos até aqui. Foram meses mergulhados na história, conversas constantes com fontes e decisões editoriais nada fáceis de serem tomadas, afinal estamos falando de crianças vítimas de violência, em uma situação de extrema vulnerabilidade. Que precedentes essa história abre para outras crianças das periferias?
É pra esse debate que eu te convido!
Bora nessa?
Periferias decidem o novo prefeito de SP
O voto das quebradas sempre foi decisivo, já que as periferias concentram a maior parte da população – para se ter uma ideia, a região com mais eleitores da cidade de São Paulo é o Piraporinha, na zona sul. Os resultados da gestão e as promessas de campanha são analisados pelos eleitores no dia a dia, o que torna a disputa muito mais acirrada.
Moradores das periferias da capital paulista e de mais seis cidades da Grande São Paulo voltam às urnas para escolher os novos prefeitos de seus municípios de olho no que precisa melhorar: em Paraisópolis, na zona sul, por exemplo, moradores cobram mais saúde, cultura e canalização de córregos; já no Rio Pequeno, zona oeste, transporte e segurança estão na pauta do dia.
"Para mim votar é um dever da gente. Enquanto puder, irei votar”
Luísa Marilac Lira dos Santos, 71, aposentada e moradora do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo
A afirmação dá o tom da importância das eleições - tanta que até quem não é obrigado a votar, como os maiores de 70 anos, escolheram sair de casa para fazer valer sua voz.
O espírito de cidadania também motiva jovens das quebradas a doarem seu tempo de descanso para trabalhar pela democracia, como a mesária Daniela Lopes Telles Ramos, 34, do Jardim Robru, na zona leste de São Paulo. Há 10 anos, ela é a primeira a chegar e a última a sair no colégio eleitoral onde trabalha e vota, garantindo que tudo ocorra da melhor maneira.
Cadê a diversidade?
Ainda não há motivos para celebrar a diversidade nas eleições municipais de São Paulo. Apesar do aumento da presença feminina no legislativo, o cenário de raça, gênero e periferias pouco mudou entre 2020 e 2024 na Câmara Municipal. Dos 55 vereadores eleitos em São Paulo, 20 são mulheres, uma alta de 53% se comparado com 2020, porém ainda menos da metade do parlamento. Dentre as eleitas, apenas cinco são negras.
A falta de diversidade se reflete na Grande São Paulo: apenas três mulheres foram eleitas prefeitas no primeiro turn nos 39 municípios da região. Quando olhamos para os partidos políticos, PL e Podemos avançam e o PSDB perdeu força.
O CAPs virou casa
Uma criança dorme em uma cama. No quarto, ela não compartilha espaço com brinquedos ou materiais escolares, mas com um profissional de saúde. Às 7h, ambos devem estar de pé para desmontar a cama e liberar o espaço para o primeiro atendimento médico do dia. Só à noite, quando as consultas terminam, a mesa será recolhida e o consultório se transforma novamente em um dormitório improvisado.
Estamos em um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) Infantojuvenil 24 horas de Diadema, na Grande São Paulo. O local foi, por por mais de um ano, o endereço de Amaro*, 11, após ele ser encaminhado para um abrigo e passar a apresentar episódios de agressividade. A investigação da Agência Mural discute o que o caso representa quando o assunto é direto à saúde mental nas periferias.
No escuro
Milhares de moradores das periferias de São Paulo passaram dias sem luz, devido a demora da prefeitura e da empresa de energia Enel em religar a rede de energia após uma tempestade na capital paulista, que derrubou postes e árvores. Famílias perderam alimentos, tiveram que racionar bateria de celular e não conseguiram usar cartões de débito e crédito para comprar itens básicos.
Uma escola em casa
O sonho de ser professora e a crise educacional causada pela pandemia de covid-19 fizeram com que a pedagoga Sandra Regina, de Ferraz de Vasconcelos, transformasse a garagem de casa em uma sala de aula para receber estudantes que precisavam de apoio para voltar à escola. De lá para cá, a iniciativa ganhou asas - e as realizações da professora também.
Não só dela, mas de dezenas de outros educadores que constroem o futuro das periferias. Dentro e fora da escola, eles colecionam histórias inspiradoras de engajamento social e transformação da realidade.
Quem tem direito ao BPC-Loas?
O BPC (Benefício de Prestação Continuada) foi criado pela Loas (Lei Orgânica da Assistência Social), em 1993 e garante um salário mínimo para idosos acima de 65 anos e pessoas com alguns tipos de deficiência (PCD) ou doenças que não tenham condições de trabalhar. Debates sobre revisões no benefício têm ganhado espaço na mídia, mas você sabe como ele funciona?
MC Gatinha
Com apenas 9 anos, Wendy Queiroz tem uma rotina parecida com a maioria das crianças: vai à escola diariamente para estudar, gosta de brincar e passear. No colégio onde ela começou a rimar, cantar e se tornou a MC Gatinha. Hoje, a menina também participa de uma série da Netflix e esteve no Criança Esperança, da TV Globo.
“O que é bom? ler um livrinho, pintar, brincar… Mexer no celular é legal, mas as crianças precisam saber que tem outras coisas pra fazer”
MC Gatinha
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A Agência Mural é finalista em algumass das mais importantes premiações de jornalismo do país. O projeto concorre ao Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados com o especial Panorama das Favelas de SP, na categoria Visualização; é finalista nas categorias texto e redes sociais no 4º Prêmio de Comunicação Fundação José Luiz Egydio Setúbal; concorre na categoria fotojornalismo do Prêmio CNT de Jornalismo, com a matéria “No desafio diário do transporte, moradores das quebradas apostam em diferentes modais”; e passou para a fase de admissão do Prêmio EBC com o projeto “Papo Reto no Zap”.
É o resultado de um trabalho coletivo, feito à várias mãos e pautado pelo jornalismo de interesse público. Só por isso, já vale celebrar antes mesmo dos resultados, né?!
O diretor de treinamento e dados da Agência Mural, Paulo Talarico, representou o projeto na 80ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol), em Córdoba, na Argentina. Ele participou de uma mesa sobre desertos informativos no Brasil, junto com Mariama Correia, pesquisadora do Atlas da Notícia, editorada Agência Pública e cofundadora da Cajueira, e mediação de Rosental Alves. No encontro, recebeu a premiação de melhor jornalismo de dados e infografia pela reportagem Panorama das Favelas de São Paulo.
Se você ainda não viu, corre lá para conferir o conteúdo e um modelo inovador de apresentação de dados sobre as periferias de São Paulo.
Obrigada por chegar até aqui!
A Agência Mural tem como missão fazer jornalismo local sobre, para e pelas periferias, combatendo estereótipos e garantindo o acesso à informação.Participe da Tijolo por Tijolo e ajude a construir nosso jornalismo.
Obrigada a todos e todas.
Edição: Sarah Fernandes
Contato: sarahfernandes@agenciamural.org.br
Saiba mais em: www.agenciamural.org.br
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