Foi lindo demais de ver, não foi?! Atletas do nosso país, muitos deles das periferias, brilharam nas competições dos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Eles se superaram, quebraram limites, encantaram a torcida e vários trouxeram medalhas para o Brasil, que fez uma campanha com momentos que ficarão pra sempre na história.
Emocionante também ver as quebradas conquistarem o palco mais importante do mundo com modalidades que nasceram dos nossos, como o breaking e o boxe. E a gente, claro, esteve pertinho acompanhando, torcendo e trazendo novidades das periferias em Paris, com espaço especial nesta edição da Mural Inbox.
E se a festa foi linda, agora a gente se prepara para outras duas: as Paralimpíadas, que começam em 28 de agosto, com forte presença das periferias da Grande São Paulo, e a campanha eleitoral que já está bombando por aqui. Usamos cruzamento de dados e, claro, muita apuração e reportagem, ouvindo quem vive nas periferias, para contar o mais importante sobre o pleito nas quebradas.
Bora nessa?
Paris virou baile!
Dos 276 atletas que foram a Paris, 49 eram das periferias da Grande São Paulo. E vamos combinar que é lindo demais ver os nossos ganhando o mundo. Principalmente porque de todas as modalidades, poucas são realmente acessíveis para quem vive nas periferias. Entre as mais populares estão o futebol, a corrida e o boxe.
O Brasil levou à Paris 10 boxeadores, todos de origem periférica - dois deles da Grande São Paulo: Abner Teixeira (Osasco) e Luiz Oliveira “Bolinha” (de São Mateus, na zona leste de São Paulo). O trabalho dos projetos sociais explica porque o pugilismo é um esporte tão praticado nas periferias.
“É um esporte onde o corpo que vai se tornar majoritário é um corpo negro, racializado. Ele é quem detém o protagonismo da modalidade”
Michel de Paula Soares, antropólogo
E uma das principais novidades dos Jogos de Paris também veio das periferias: o breaking disputado como esporte olímpico. Ele é um dos quatros elementos da cultura hip hop, movimento que surgiu nos subúrbios dos Estados Unidos em 1970, junto com os MCs, os DJs e o grafite. Em São Paulo, b-boys e b-girls conquistaram espaços, ocupando centros culturais e áreas de lazer no centro e nas periferias. “Já estou me preparando e participando de campeonatos para 2028”, diz Andressa Fernandes, 33, mais conhecida como a b-girl Dedessa, é descendente indígena, moradora de Diadema.
Mas quais outros esportes ou brincadeiras de rua poderiam estar nos jogos? Para 2028, já foram definidas cinco novas modalidades que estarão em disputa em Los Angeles, sede da próxima Olimpíada: críquete, flag football, squash, beisebol e lacrosse. Dava para ser melhor... Confere a lista da Mural de esportes de rua que tem tudo para fazer sucesso!
Corrida eleitoral
Precisamos falar sobre diversidade racial nas eleições da Grande São Paulo! Apenas duas gestões na região são comandadas por prefeitos autodeclarados negros - e o número pode cair ainda mais este ano. Nas Câmaras Municipais, o cenário é um pouco mais favorável, com 34% dos legisladores se declarando pretos ou pardos. Mesmo assim, houve processos de cassação contra vereadores, partindo de quem não têm a causa antirracista como norte.
Solicitamos que fosse implementado o Comitê da Saúde da População Negra, a restruturação da Coordenadoria da Igualdade Racial, a efetivação do Conselho do Negro e da Cultura e não existiu o mínimo de interesse
Dinha Souza, candidata a vice-prefeita em Taboão da Serra
A declaração é apenas parte do desafio de políticos pretos e pardos acessarem o poder na região metropolitana de São Paulo, o que deve se repetir nas eleições 2024. Mas houve avanços nas pautas raciais nos municípios com prefeitos negros à fente do Executivo? A gente te conta!
Ainda assim, importante dizer que novas candidaturas tentam ampliar representatividade negra na Grande São Paulo, sobretudo nas câmaras municipais. Lideranças têm articulado candidaturas para tentar furar essa barreira.
Periferias no primeiro debate à Prefeitura
Na noite da quinta-feira (08), os cinco candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto para a Prefeitura de São Paulo participaram do primeiro debate das eleições de 2024, transmitido pela TV Bandeirantes. Ao longo do debate, as periferias estavam na ponta da língua dos candidatos, sendo frequentemente mencionadas como “carta coringa”. Tábata, Boulos e Nunes destacaram ter origens periféricas, buscando conexão com os eleitores dessas regiões. Marçal gerou polêmica ao se referir às periferias como “campos de concentração”.
Cultura pop de quebrada
Quem cresceu assistindo desenhos de super-heróis na TV aberta e lendo gibis na escola nem sabia, mas estava se formando como um consumidor de cultura pop. Grande parte desse público periférico se tornou um verdadeiro fã do universo geek e continua acompanhando produções e até transformando a paixão em fonte de renda. É o que conta a influencer Milena Souza, 26, conhecida como Enevoada, que semanalmente fala com milhares de espectadores sobre literatura marginal e cultura pop em seus canais nas redes.
Plano Real pros nossos
Era final de 1993 quando a confeiteira Jacy Firmina de Siqueira, 70, ouviu no rádio uma notícia que despertou preocupação: uma nova moeda entraria em circulação no país, o Real, a quarta em apenas cinco anos. “Foram tantas e nenhuma deu certo, porque essa daria?”, pensou. A mudança era uma das etapas do Plano Real implantado para estabilizar a economia na época marcada por hiperinflação. Mas todo remédio tem efeitos colaterais: houve diminuição de investimentos em políticas públicas e gasto público elevado para manter a paridade da moeda com o dólar, que geraram efeitos importantes para os moradores das quebradas.
Os desafios do transporte
Todas as manhãs, antes do trabalho, os moradores das periferias planejam seu trajeto. As longas distâncias entre a casa e o local de trabalho são uma das marcas das periferias e das vidas dos trabalhadores das quebradas, que gastam horas no transporte, integrando diferentes modais. A Agência Mural registrou o vai e vem dos das quebradas, destacando os desafios do cotidiano em fotorreportagem.
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Entre 31 de julho e 2 de agosto, integrantes da Mural viajaram até Brasília para cobrir o III Seminário Internacional MROSC: Parcerias Transformadoras para um Mundo Justo e Sustentável. O evento ocorreu no Tribunal de Contas da União (TCU) e contou com a participação de diversas autoridades, ONGs, mesas de debates e oficinas. Anderson Meneses, diretor de tecnologia e negócios, Léu Britto, fotojornalista, e Iasmin Monteiro, da Comunicação Institucional, estiveram presentes colaborando para que a mensagem do seminário alcançasse um público mais amplo.
“Em 50 anos o Brasil estará habitável, mas talvez sem jornalismo”. A afirmação é forte e muito séria. Isso porque a prática de publicar títulos chamativos, como caça cliques, vem ganhando cada vez mais espaço na mídia e comprometendo o debate público. A dica então é ler o artigo do Linha Fina e apoiar projetos inovadores de jornalismo, como a Agência Mural. Vem colar na nossa campanha de financiamento Tijolo por Tijolo!
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A Agência Mural tem como missão fazer jornalismo local sobre, para e pelas periferias, combatendo estereótipos e garantindo o acesso à informação.Participe da Tijolo por Tijolo e ajude a construir nosso jornalismo.
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Edição: Sarah Fernandes
Contato: sarahfernandes@agenciamural.org.br
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