Jovens periféricos na COP30, no parlamento e nas escolas
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Oi pessoal!
Tem gente que ainda insiste em dizer que a juventude não se interessa por política, que escola pública é lugar de muitos desafios e que as quebradas são sinônimos de carências e demandas. Sabe quem não pensava assim? O Papa Francisco, que faleceu na última segunda-feira (21) e dedicou seu papado (e toda sua vida) às periferias do mundo. Como ele mesmo disse: “a periferia nos faz entender o centro".
Nós confirmamos! Por isso, mostramos aqui que nas quebradas tem movimento, projetos e transformação, todos os dias.
Nesta edição da Mural Inbox, apresentamos jovens que estão ocupando espaços de decisão: desde estudantes propondo leis nas Câmaras Municipais até ativistas periféricos na COP30. Também destacamos o retorno de uma professora à sua antiga escola, reforçando o senso de pertencimento na sala de aula. É sobre presença. É sobre fazer parte.
A gente também traz o olhar de mães atípicas das quebradas, que enfrentam barreiras para garantir cuidados adequados aos seus filhos, e apresenta a trajetória da primeira presidente social de Paraisópolis, pioneira na luta por políticas públicas a partir da vivência da comunidade.
Em tempos de extremos, apostamos na radicalidade de escutar com atenção, dar nome às histórias e reconhecer a potência de quem vive nas margens. E é isso que você encontra aqui.
Bora nessa?
Um papa para as quebradas
Papa Francisco deixará como marca a busca por uma igreja mais próxima das periferias e dos mais pobres. Natural da Argentina, o primeiro pontífice latino-americano se dedicou ao trabalho social e religioso nas favelas de Buenos Aires e depois ao redor do mundo. Confira, relembre e se inspire nos ensinamentos históricos sobre as quebradas do “papa dos pobres”.
Parlamento Jovem
A representatividade das juventudes na política institucional ainda é baixa. Dados da Justiça Eleitoral de 2024 comprovam que quem tem entre 18 e 24 anos é minoria nas Casas Legislativas do país e entre os filiados em partidos políticos. Mas isso significa que há desinteresse dos jovens pela política? Não exatamente.
Sobretudo aqueles que vivem nas quebradas têm consciência de que suas vidas são atravessadas pela política, mas nem sempre se sentem pertencentes aos espaços políticos formais. Então, se os jovens não vão às Câmaras Municipais, as Câmaras têm ido até eles por meio de projetos que incentivam a atuação legislativa de adolescentes: eles propõem projetos de lei, participam de plenárias, defendem pautas e votam projetos.
“Os jovens da periferia levaram mais demandas de políticas públicas, pela sua vivência”
Evelyn Figueiredo Nóbrega, 17, participante de Itaquera, na zona leste de SP
Os nossos na COP30
Com a aproximação da COP30 — a principal conferência da ONU sobre mudanças climáticas —, marcada para novembro de 2025, em Belém (PA), aumentam as expectativas e a urgência em torno do debate climático.
Pela primeira vez sediado na Amazônia, o evento reunirá líderes do mundo todo para negociar soluções frente à crise do clima. E, neste cenário, o protagonismo de jovens ativistas periféricos ganha ainda mais força, afinal, são eles que vivenciam em primeira mão os efeitos da crise climática.
“A comunidade onde moro não se chama ‘Pantanal’ por acaso. Tem um histórico de enchentes, e essa preocupação esteve presente desde as minhas primeiras ações”
Jahzara, ativista climática
Um bairro dentro da escola
O anúncio de que havia conseguido vaga para professora na Escola Municipal Hipólito José da Costa, foi uma festa para Edivania Alexandre, 46. Ela finalmente havia chegado onde sempre queria estar: no lugar onde havia finalizado o ensino fundamental, em 1994, no Jardim Fontalis, na zona norte de São Paulo.
O trabalho no colégio, iniciado em 2010, rendeu muitos frutos. A professora esteve à frente de projetos que extrapolaram os limites do colégio e acumularam resultados importantes para a comunidade. “Hoje sinto que o bairro veio pra dentro da escola”.
Mães atípicas nas quebradas
A Agência Mural ouviu de mães atípicas das periferias quais são os desafios enfrentados para garantir que seus filhos tenham acesso a terapias e rede de apoio adequados. Não raro, elas são as principais responsáveis pelos cuidados das crianças e precisam se dedicar integralmente a elas.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição que impacta a comunicação, a interação social e o comportamento. O suporte familiar é fundamental para o desenvolvimento dessas crianças.
A primeira presidente social de Paraisópolis
Sentada em um sofá de forro verde, ladeada por dois caixotes de plástico, a pedagoga Maria Betânia Ferreira Mendonça, 66, percorre com os dedos as páginas de antigos álbuns de fotografias. Entre memórias, revive a trajetória de ativismo que a tornou a primeira presidente social de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, onde mora desde os anos 1970.
Atualmente conselheira dos equipamentos de saúde AMA Paraisópolis, CAPS AD III e UBS III, Maria Betânia teve papel fundamental na formação da comunidade.
“Tudo isso que a gente tem é conquista. Eu me orgulho muito dessa luta, mas não fui eu. Foi a população”
Maria Betânia, líder comunitária de Paraisópolis
Educação indígena e periférica
Você já se perguntou como funcionam as escolas dentro de aldeias indígenas? A Agência Mural foi até a Escola Estadual Djekupe Amba Arandy, no território Guarani do Jaraguá, zona norte de São Paulo, buscar esta resposta.
Spoiler: o tempo de aprendizado, a conexão com a natureza, o corpo docente e as disciplinas diferenciadas fazem com que o ensino seja único em cada aldeia e para cada povo. Mas para isso se efetivar é preciso do esforço da comunidade em conectar alunos à sua origem e construir um ensino crítico, questionador e sem estereótipos.
Biblioteca comunitária
Nascida e criada em Heliópolis, na zona sul de São Paulo, Caroline Barbosa, 30, frequenta a Biblioteca Comunitária de Heliópolis desde os 14 anos. Ela vê sua trajetória pessoal e profissional entrelaçada com as influências adquiridas no espaço.
Atriz, educadora popular e mestranda em museologia pela USP, Carol se ofereceu voluntariamente para dar aulas de teatro e oficinas de contação de histórias para crianças e jovens da favela e região. A história dela é apenas uma das vivenciadas no espaço, onde a comunidade tem buscado meios de existir.
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O ano mal começou e a Mural já tem motivos de sobra para comemorar. Fomos premiados no prêmio internacional AMIC Mitjans de Proximitat, concedido pela Associação de Meios de Informação e Comunicação (AMIC), que reconhece as melhores iniciativas de jornalismo local na Europa e no mundo. O júri destacou a “forma inovadora de fazer jornalismo com uma visão diferenciada, fugindo dos clichês e a partir da visão dos moradores”.
Além disso, levamos para casa também o Prêmio MOL de Jornalismo para a Solidariedade, em duas categorias: terceiro lugar na categoria “texto” de jornalismo comunitário, com a reportagem “Com grupo no zap, ações e caminhadas, mães de Itapevi criam rede de apoio para falar sobre autismo”, da correspondente Carol Lima; e segundo lugar na categoria “foto” de jornalismo tradicional, com a reportagem “Pai e filho transformam viela da zona sul em parque com picadeiro”, do fotojornalista Léu Britto.
Não podia ser outra, né?! Que tal reservar um tempinho para ler (e se emocionar) com as histórias do especial “Nas Margens da Billings”? Para marcar os 100 anos de um dos principais reservatórios de água de São Paulo - e local de moradia para parte dos moradores das periferias - reunimos histórias de resistência, valorização cultural e preservação do meio ambiente ao redor da represa.
Durante dois meses, a equipe da Mural percorreu seis municípios da região metropolitana da capital paulista, entrevistando mais de uma dezena de fontes e mergulhando na realidade das moradoras e dos moradores das margens da Billings. A reportagem explora a importância da represa para as comunidades locais e as transformações ambientais ao longo do tempo.
Obrigada por chegar até aqui!
A Agência Mural tem como missão fazer jornalismo local sobre, para e pelas periferias, combatendo estereótipos e garantindo o acesso à informação.Participe da Tijolo por Tijolo e ajude a construir nosso jornalismo.
Obrigada a todos e todas.
Edição: Sarah Fernandes
Contato: sarahfernandes@agenciamural.org.br
Saiba mais em: www.agenciamural.org.br
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