Que propostas queremos eleger para as periferias?
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Oi pessoal!
E isso: chegamos na reta final das eleições municipais de 2o24. No próximo domingo, eu e você vamos escolher o novo prefeito para a cidade. Mas o que exatamente nós queremos eleger para as quebradas?
O que queremos para o vizinho que acorda às 4h da manhã para chegar no trabalho, no centro, às 8h? Ou pro filho da amiga que está desmotivado no ensino médio, sem perspectiva de terminar os estudos? Ou ainda, para a dona de casa da porta ao lado, que faz um verdadeiro malabarismo para fechar as contas no fim do mês?
É por todos eles que votaremos. Afinal, votar significa abrir caminhos, construir possibilidades, permitir novos futuros - e quem fala isso é alguém que conseguiu realizar sonhos graças a políticas públicas que chegaram na hora certa na minha quebrada.
Deu pra sentir o tamanho da responsa, né?! Mas calma que a Mural não te deixa sozinho. Preparamos aqui uma série de reportagens pra você ficar por dentro do que está rolando de mais importante e urgente nas eleições da ponte pra cá - afinal, pros nossos é diferente!
Então, bora baixar o e-título e embarcar nessa?!
Por que jovens negros não se enxergam na política?
"Quando não me enxergo em determinado espaço, não me sinto pertencente e não quero nem chegar a acessar aquele lugar”, afirma Lino Bernardo, 21. Educador negro, morador do Parque Santo Antônio, na zona sul de São Paulo, ele convive diariamente com adolescentes e sabe da importância e o desafio de se pensar em política enquanto jovem.
Essa dificuldade será colocada à prova nas eleições deste ano em São Paulo. Atualmente na Câmara de Vereadores da cidade, apenas 11 dos 55 eleitos na última eleição municipal (20%) se autodeclaram negros. O cenário segue complicado para a disputa deste ano: dos 1.033 candidatos a vereador, prefeito e vice-prefeito, apenas 57 têm até 30 anos. Deles, 24 são negros, aponta levantamento da Agência Mural.
Quem são, quanto ganham e no que gastam?
Há quatro anos, três mulheres foram eleitas prefeitas na Grande São Paulo. O número é pequeno levando em conta que são 39 cidades. O cenário, por enquanto, indica que os números de 2024 podem ser ainda menores.
Dos 175 concorrentes ao comando das prefeituras na região nas eleições deste ano, apenas 30 são candidatas, sendo que 14 municípios não possuem nenhuma mulher na corrida eleitoral: Guarulhos, Diadema, Carapicuíba, Mairiporã, Santana de Parnaíba, São Caetano do Sul, Jandira, Arujá, Biritiba-Mirim, Salesópolis, Ribeirão Pires, São Lourenço da Serra, Pirapora do Bom Jesus e Cajamar.
“Ela precisa encontrar tempo. As mulheres têm outras jornadas, cuidam das crianças, das pessoas idosas, com deficiência, cuidam inclusive das coisas para os homens entrarem na política”
Shisleni de Oliveira Macedo, pesquisadora do Centro de Estudos Periféricos da Unifesp
Na mesma linha, apenas dois em cada dez candidatos a prefeito na Grande São Paulo são negros. Essa falta de diversidade nos Executivos municipais reduz a representatividade política de pautas sensíveis a esse grupo, já que uma das atribuições principais dos prefeitos é propor e sancionar leis e projetos que melhorem a vida da população.
E pra isso, claro, eles são remunerados. Mas quanto ganham os prefeitos e os vereadores na Grande São Paulo? A Mural fez esse levantamento para responder às perguntas que não querem calar nas eleições. Spoiler: a diferença entre as cidades é muito grande!
E já que o assunto é dinheiro, aproveita e confere quanto podem gastar os candidatos a prefeito e vereador na Grande São Paulo em suas campanhas.
E a moradia, candidato?
Desde 2021, Luiza Gabriela Vieira de Souza, 23, mora com o marido e o filho na ocupação Jorge Hereda, na zona leste de São Paulo. Eles ficaram desempregados na pandemia de Covid-19 e não conseguiram mais bancar o aluguel. “Tenho medo porque a gente não tem pra onde ir”, relata sobre o receio de ser despejada.
O déficit habitacional da capital atualmente é de 369 mil moradias, que vai desde pessoas que se cadastraram para buscar uma casa própria até quem hoje vive em alguma das 371 ocupações da cidade, segundo monitoramento atual da Secretaria Municipal de Habitação. Ainda assim, jovens que vivem nas ocupações tem esperança que as eleições municipais os ajudem a ter garantido o direito a uma moradia digna.
Sem esquecer de quem gasta 3h no busão
O transporte é um ponto central em São Paulo, em especial para quem vive nas periferias da cidade. Moradores da capital levam cerca de 2h30 no trânsito por dia, segundo dados deste ano da Rede Nossa São Paulo. Nesse cenário, o que os candidatos prometem?
Para conferir se os projetos apresentados na campanha deste ano estão alinhados com a realidade, a Agência Mural analisou e elencou as propostas dos candidatos à prefeitura de São Paulo para a eleição do próximo dia 6 de outubro. Planos apresentados em entrevistas e debates estão fora do levantamento.
Corrida eleitoral na Grande SP
Não raro, a cobertura da imprensa sobre as eleições municipais se concentra na capital paulista - maior cidade do país - e quem mora na região metropolitana fica com poucas alternativas para acompanhar as notícias da sua cidade. Não na Mural.
Em um esforço de reportagem da nossa rede de correspondentes, trazemos informações sobre cidades da Grande São Paulo nas eleições 2024. Como São Bernardo chega para o pleito após oito anos de Orlando Morando? Com cinco candidatos, quais incertezas Mauá enfrenta na reta final da disputa? O que foi cumprido e o que não saiu do papel em Ferraz de Vasconcelos? Quais os principais personagens e assuntos que pautam as eleições em Poá? As promessas feitas em Diadema foram cumpridas? E em Pirapora do Bom Jesus, o que os candidatos propõem? Acompanhe conosco! Até dia 6, novas histórias sobre a Grande SP serão publicadas.
Gordofobia, capacitismo, transfobia: o preconceito é diferente da ponte pra cá?
A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência determina o capacitismo como crime passível de punição. Isso não impediu que o ator Kelvin França Delamare, 24, da Casa Verde, na zona norte, vivesse situações de discriminação. O Supremo Tribunal Federal equiparou atos ofensivos a pessoas LGBTQIAPN+ como crime de injúria racial, mas isso também impediu que a produtora de moda Chloe Domingos de Oliveira, 21, de Guaianases, zona leste, passasse imune ao preconceito.
A Mural foi ouvir dos jovens como a dscriminação afeta quem passa horas no ônibus, estudou em escola pública e depende exclusivamente do SUS para atendimento de saúde.
“Uma vez uma mulher fez um escândalo por eu estar no lugar preferencial do ônibus, mesmo eu identificado como uma pessoa com deficiência”
Kelvin França
Geração Z das periferias rebate estereótipos
O dia mal raiou e a estudante de economia e bancária Débora Borges, 22, moradora do bairro de Americanópolis, em Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo, já está a caminho do trabalho, no Morumbi, bairro rico da região sul. Para a jovem, a rotina dividida entre o trabalho e os estudos não reflete as discussões em torno da geração Z e o mercado de trabalho. Os nascidos entre 1997 e 2012 são tidos como pouco comprometidos, com dificuldade de respeitar hierarquias e que desistem muito fácil dos desafios.
“Não sei se a referência são jovens que têm mais dinheiro, porque a realidade que eu e meus amigos da minha geração vivemos não é essa. Aqui todo mundo quer se inserir no mercado de trabalho e dar o seu melhor.”
Débora Borges, 22, estudante e bancária
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Como foi a primeira Parada do Orgulho LGBTQIAP+ em Ferraz de Vasconcelos?
Tem alguma geloteca na sua quebrada?
A equipe da Agência Mural marcou presença no Media Party, um dos maiores eventos de comunicação da América Latina, realizado em Buenos Aires, na Argentina. Falamos sobre a reportagem especial “Sem Notícias”, que discute o impacto da falta de acesso à informação nas periferias, a partir da realidade de Pirapora do Bom Jesus. Os editores Paulo Talarico e Sarah Fernandes, junto com a organização argentina Ecofeminita, debateram possíveis soluções para o problema. Na semana seguinte, a equipe marcou presença no 8º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, da Jeduca. Nossa diretora institucional e de diversidade, Cíntia Gomes, mediou a mesa "Jornalismo e o racismo nas escolas".
O seminário Periferias e a Política trouxe reflexões interessantes sobre o voto em disputa nas periferias pela direita e esquerda. Vale conferir o papo que teve Uvanderson Silva, coordenador do programa da Fundação Tide Setubal; Andressa Oliveira, articuladora política do Mulheres Negras Decidem; Tiarajú Pablo D’Andrea, professor da Unifesp e da USP e coordenador do Centro de Estudos Periféricos; Luciana Chong, diretora do instituto de pesquisas Datafolha. O evento foi realizado pelo jornal Folha de S. Paulo.
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Obrigada a todos e todas.
Edição: Sarah Fernandes
Contato: sarahfernandes@agenciamural.org.br
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