Seu Antônio, ciganos das quebradas e agroecologia da ponte pra cá
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Oi, pessoal!
Junho tá aí e com ele aquele clima que a gente adora: bandeirinha pra todo lado, cheiro de milho cozido no ar e muita história boa pra dividir. Sabe aquele forró animado que faz a vizinhança se juntar na rua? Pois é nesse embalo que a gente chega na sua caixa de entrada. Por isso, já corre aqui para conferir as festas juninas que estão rolando nas quebradas!
E para além da festança, você vai conhecer as mulheres que fazem da Represa Billings mais do que um reservatório de água: elas aquecem a economia local e ainda preservam o meio ambiente. Além disso, vai embarcar em uma viagem pelo universo dos ciganos do Itaim Paulista, quebrando mitos e mostrando que a diversidade faz parte da nossa rotina.
A gente presta homenagem à Neide Abati, que deixou um legado de luta no Campo Limpo, e apresentamos os pipeiros da zona sul de São Paulo, que voam alto para preservar tradições - afinal brincar é coisa séria! E se você curte ver a cidade se transformando, vai se inspirar com a galera que está convertendo terrenos baldios em hortas comunitárias.
Tudo isso, claro, embalado pelo clima de arraial: tem forró, tem causos, tem tradição e tem muita gente boa mostrando que, por aqui, a festa nunca acaba — e a porta está sempre aberta pra você chegar e se sentir em casa.
Bora nessa?
Forró da Priscila
Cactos, imagens de Luiz Gonzaga, Lampião e Maria Bonita decoram as paredes. Do teto, pendem guarda-chuvas coloridos, lembrando o Bar do Cuscuz, tradicional na Paraíba. A cena, porém, está longe do sertão: acontece em plena Paraisópolis, a maior favela de São Paulo, na zona sul da capital.
É nesse cenário que funciona o Forró da Priscila, casa de shows criada por Maria Aparecida Prudêncio da Silva, 37, apelidada de Priscila pelo irmão ainda na infância e conforme é conhecida por todos.
“Saía vendendo ingresso, fazia divulgação com carro de som. Fiz isso por 12 anos, sempre acreditando no sonho de ter meu próprio comércio aqui na comunidade”
Priscilla
Inimigo silencioso
Em um dia você segue a rotina normalmente, no outro, nota uma protuberância estranha no abdômen. Pode ser hérnia da parede abdominal — condição mais comum do que se imagina. O problema é que, nas periferias, pacientes convivem com dor e enfrentam demora para fazer a cirurgia pelo SUS, único tratamento efetivo.
“Pacientes com hérnia concorrem com vagas de quem tem câncer, o que dificulta o tratamento, porque ele não é ‘visto’. Só que os afastamentos por conta da doença são bem altos”
Paulo Henrique Fogaça de Barros, cirurgião do aparelho digestivo
Ciganos das periferias
Muita gente ainda acredita que ciganos são adivinhos, que lêem as mãos, dançam e são nômades. Mas será que é só isso? “Alguns ciganos até lêem mãos, dançam, se vestem com roupas típicas, mas alguns são evangélicos como eu e nem vivem em acampamentos. É um povo como qualquer outro”, conta a dona de casa Magda Santos, 32, que mora no Itaim Paulista, zona leste de São Paulo, e é um dos acampamentos integrantes da Roda Cigana – Rede Humanitária.
A Agência Mural foi conhecer como é a vida dos ciganos nas periferias de São Paulo e saber quais desafios enfrentam para serem reconhecidos como etnia e para combaterem preconceitos.
Diretora afastada
A decisão da Prefeitura de São Paulo de convocar 25 diretores da rede municipal para participarem do programa Juntos Pela Aprendizagem gerou indignação e revolta em comunidades escolares das periferias, como a do CEU EMEF Campos Salles, em Heliópolis, na zona sul de SP.
Anunciada no último dia 23 maio no Diário Oficial, a medida foi tomada sem consulta prévia às escolas e vem sendo criticada por desrespeitar o regimento interno das unidades.
Seu Antonio, o porteiro que me abriu as portas do mundo
“Dizem que o porteiro sabe a vida de todo mundo, mas o que não se fala por aí é que a família do porteiro também fica sabendo das histórias. Todos os dias, meu pai chega em casa contando alguma novidade. O que não dá pra dizer é que a vida do porteiro é parada, porque ela, definitivamente, não é”.
Em junho, quando se celebra o Dia do Porteiro, a correspondente de Diadema, Simony Maia, resolveu escrever sobre o homem que abre não só os portões de prédios nobres, mas os caminhos da vida dela: seu Antonio Borges de França.
Empreendedoras das águas
Cachaça artesanal, pesca tradicional e turismo sustentável. Em episódio especial do podcast da Agência Mural, você embarca por um dos maiores reservatórios de água da Grande São Paulo para conhecer histórias inspiradoras de mulheres que empreendem nas margens da Represa Billings.
A pescadora Shirley Aparecida, a guia de turismo e ceramista Vanderlea Rochumback e a dona do Bar da Tia Ci, Cirlene Pereira, mostram como é possível gerar renda, manter tradições e proteger o meio ambiente.
Pipeiros da zona sul
A pipa é uma brincadeira que não tem idade. No Jardim São Luís, extremo sul de São Paulo, ela une gerações. “Quando era criança, sempre soltei pipa. Hoje empino para não deixar essa arte e cultura morrer. Além disso, ajudo a criançada que não tem nada para brincar”, diz o artesão Kleberton Antunes dos Santos, 47, conhecido como Bill, fundador e integrante da Equipe de Pipeiros JSL.
Após o fim de um relacionamento, Bill retornou uma paixão de quando era criança: soltar pipa. Foi assim que fez amigos e uma equipe com 80 integrantes.
Cineclube no CAPs
O que o cinema e a saúde mental têm em comum? Para muitos, a sétima arte, além de um instrumento artístico, é uma importante ferramenta de compreensão social. O produtor audiovisual e cineasta Henrique Freitas, 26, entende como ninguém esse poder.
Desde novembro do ano passado, Henrique é monitor de oficina terapêutica no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) na unidade III Vila Vitória, em Santo André. Nesse cargo, ele colabora na produção de eventos e criação de oficinas artísticas a fim de apoiar os usuários durante o tratamento.
Adeus à Neide Abati
Dias antes de falecer, Neide Abati, 86, ajudou a planejar mais uma “Noite do Caldo” na UPM (União Popular de Mulheres) no Campo Limpo, na zona sul de São Paulo. Pediu que chamassem cantores amigos para um dia de festa e muita alegria, e não apenas para a arrecadação em apoio ao grupo.
No último dia 7, cerca de 200 pessoas participaram do evento que se tornou uma homenagem a Neide, ativista que lutou contra a ditadura militar e fundadora da organização sem fins lucrativos. Ela faleceu em 2 de junho.
Agroecologia da ponte pra cá
No quilômetro 16 da Rodovia dos Imigrantes, uma das principais de São Paulo, está localizada a Horta 8 de Dezembro. O espaço, que era destinado a descarte de lixo, nasceu há 10 anos, na Vila Mulford, em Diadema e hoje é um refúgio verde na periferia do município.
Há quilômetros dali, em São Mateus, na zona leste da capital paulista, hortas urbanas produzem alimentos orgânicos em meio à disputa entre a preservação ambiental e a luta por moradia. Localizados abaixo das torres de energia ou em terrenos baldios, os agricultores de São Mateus falam sobre como é mexer com a terra na cidade mais urbana do Brasil.
São iniciativas que mostram como terrenos ociosos que estavam esquecidos pela população ganharam uma nova função social e significado para alguns territórios nas periferias de São Paulo. Confira fotos.
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A Agência Mural participou, entre 6 e 8 de junho, do Festival 3i, promovido pela Associação de Jornalismo Digital (Ajor), no Rio de Janeiro. O evento reuniu mais de 120 palestrantes para debater os rumos do jornalismo digital no Brasil e no mundo.
No primeiro dia de programação, Anderson Meneses, diretor de Negócios e Tecnologia, apresentou uma ferramenta de inteligência artificial que alerta moradores das periferias da Grande São Paulo sobre dados climáticos locais. E no segundo dia, no “Dados e Tendências”, compartilhou os bastidores do livro “Tijolo por Tijolo”, que narra a mobilização de apoio à Mural e reúne experiências de outras organizações jornalísticas do Brasil e da Colômbia.
“O mais rico do Festival 3i é a troca nos bastidores, conversando com quem está fazendo esse novo jornalismo em que a gente acredita. Um jornalismo que empodera, que constrói novas narrativas e trata os moradores das periferias de forma digna”, afirma Anderson.
“[...] uma sala de paredes de vidro acolhia uma fila de pessoas que conseguiram uma senha para ter acesso ao treinamento em inteligência artificial (IA). Em cinco mesas, jovens com cortes de cabelo moderninhos ensinavam pacientemente o que significa inteligência artificial generativa, como usar ferramentas para melhorar seus textos e criar imagens a quem quisesse ouvir. Ao lado, um túnel com enormes telões exibindo imagens de Jair Bolsonaro em cores vibrantes levavam o público até o grande auditório, [...] dentro do salão, o ex-presidente era louvado em hits modernosos [...]
É assim que a jornalista Natalia Viana, Diretora Executiva da Agência Pública, discute como as Big Techs e os apoiadores de Bolsonaro usam IA para comunicação política. O artigo está disponível na newsletter Xeque na Democracia. Vale a leitura!
Obrigada por chegar até aqui!
A Agência Mural tem como missão fazer jornalismo local sobre, para e pelas periferias, combatendo estereótipos e garantindo o acesso à informação.Participe da Tijolo por Tijolo e ajude a construir nosso jornalismo.
Obrigada a todos e todas.
Edição: Sarah Fernandes
Contato: sarahfernandes@agenciamural.org.br
Saiba mais em: www.agenciamural.org.br
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