Um ano pro seu voto: qual o papel da juventude periférica na política municipal?
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A contagem regressiva já começou. Exatamente 365 dias nos separam do dia em que teremos a oportunidade de votar para escolher nossos prefeitos e vereadores. Uma data importante, mas também resultado de um processo que começa muito antes e se estende muito além do dia 6 de outubro de 2024.
Mas a participação política não existe apenas na hora de votar. Ela está diariamente em cada território. As escolhas que faremos nas urnas têm impacto direto em nosso cotidiano, especialmente para quem vive nas periferias.
Afinal, sentimos na pele o que é enfrentar um busão lotado, esperar por horas por um atendimento no posto de saúde, buscar por um emprego ou encarar aulas vagas nas escolas municipais.
Começamos hoje a cobertura das eleições 2024 pela Agência Mural. Estaremos atentos para ouvir e com a missão de abrir cada vez mais o diálogo com os jovens periféricos que recebem o título de “futuro”, mas que muitas vezes são esquecidos no presente.
A partir do nosso jornalismo, estaremos juntos, dando apoio a cada passo das decisões, mostrando como a participação política é possível dentro e fora de parlamentos, como essa ação pulsa nos nossos territórios e quais os caminhos para transformar nossas realidades.
Vamos juntos!
Política, pra que te quero?
Em movimentos populares, partidos políticos ou no trabalho comunitário em seus bairros e territórios. São muitas as formas de participação política dos jovens das periferias que, ao contrário do que prega o senso comum, são sim interessados em participar de debates e movimentos pelas pautas que acreditam.
Nas últimas semanas, a Agência Mural conversou com jovens envolvidos com política das periferias da Grande São Paulo para saber deles quais os anseios e desejos com a política municipal.
"O jovem participa bastante da política, porque a vida do jovem é atravessada pela política e pela necessidade de se organizar, mas não necessariamente ele vai fazer parte da política tradicional, ingressando em um partido ou sindicato, por exemplo”, comenta o cientista político Rafael Araújo.
Este é um comportamento bastante presente entre as juventudes periféricas: ocupar espaços, institucionalizados ou não, para fazer debates políticos – incluindo as redes sociais, onde conseguem dar visibilidade aos seus discursos. O fato é que a participação dos jovens, com os anseios, desejos e questionamentos próprios da idade, é fundamental para o desenvolvimento da sociedade.
"Minha reivindicação é só por existir. Um dia mais já é uma grande resistência para mim. Por isso, eu geralmente utilizo de diversas linguagens artísticas e histórias para o meu reconhecimento e dos outros nesse território", diz a socioeducadora Nica Gonçalves, 21, de Perus, zona norte de São Paulo. Ela tem sua ancestralidade ligada à cultura indígena da etnia Tupinambá e à população negra.
Aproximar o jovem da política ou a política do jovem?
Ao todo, 47,8 milhões de brasileiros têm entre 15 e 29 anos, o que representa um quarto da população do país, segundo o Atlas das Juventudes de 2021
Os jovens entre 16 e 24 anos são fortemente a favor do voto, mas não sentem que ele seja uma ferramenta democrática suficiente para alcançar mudanças
Eles valorizam a política, mas enxergam com desconfiança os partidos os políticos
Preferem se engajar em causas concretas, como meio ambiente, feminismo, desigualdades e defesa de direitos LGBTQIA+
Os jovens se informam, sobretudo, pelas redes sociais, em especial o Instagram e o TikTok
Fonte: Relatório Juventude e Democracia na América Latina
Na política partidária
A participação de jovens na política ainda é um desafio. Apenas 10 das 39 cidades da Grande São Paulo elegeram jovens de até 24 anos para ocupar uma cadeira na Câmara Municipal nas eleições de 2020. Foram apenas 14 vereadores em todos os municípios.
Essa barreira começa já ao entrar em um partido. Na cidade de São Paulo, o total de filiados entre 16 anos - idade mínima para ingressar em um partido – e 24 anos chega com esforço a 1%. A proporção é bem menor do que o número de jovens eleitores que é de 11%, segundo a Justiça Eleitoral.
O distrito de Pedreira, na zona sul, é o com o maior número absoluto de jovens filiados a partidos políticos: 237. Na sequência vem Parelheiros (186), também na zona sul, e Perus (174), na zona norte.
“Não conseguimos criar a tarifa zero [no transporte público] para os estudantes por falta de orçamento, mas aprovamos essa política nos dias das provas do Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]. Se não tivesse um jovem na Câmara, um projeto como esse nem seria pensado”
Vereadora de Mogi das Cruzes Maria Luiza Fernandes (Solidariedade), 23
Ativismo periférico
A falta de representatividade das quebradas nos espaços políticos tradicionais levou o estudante de letras Rafael Lucas Leonel Cyríaco, 25, a se afastar dos movimentos de esquerda que frequentava para cofundar o Maloka Socialista, em 2019, no extremo sul da capital paulista. O coletivo é ligado ao PSOL (Partido Socialista e Liberdade), do qual é filiado há três anos.
"Trabalhamos com pautas de quebrada, como as eleições do Conselho Tutelar, por compreender que este é um espaço importante para a gente ocupar. Também atuamos com outras pautas de sobrevivência, chamadas identidades, como as questões de negritude, LGBT, mulheres, trabalhadores, leis culturais e hip-hop", conta.
Um dos avanços conquistados foi a inclusão de debates historicamente importantes para as periferias na esfera pública, como políticas de acesso à cultura, educação e emprego.
"Uma das pautas exitosas mais recentes foi a luta contra a privatização das Casas de Cultura em que estivemos muito próximos enquanto periféricos. Era uma das propostas da Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo, que após pressão foi suspensa",
Estudante e ativista Rafael Lucas Leonel Cyríaco, 25
Fora do ar
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Nas últimas semanas, a Agência Mural esteve no Colégio Móbile e em universidades para falar com estudantes de diferentes níveis de ensino sobre a importância de um jornalismo plural, local e que dê espaço para temas não comumente abordados na imprensa tradicional. Pelo projeto Mural nas Universidades, conversamos com um grupo de 25 estudantes do 1º e 2º semestre de jornalismo da Unip.
O Projeto SETA e o Instituto de Referência Negra Peregum, com apoio da Folha de S. Paulo, promoverão o evento "Comunicação antirracista em pauta", com o objetivo de fortalecer o diálogo sobre relações étnico-raciais na mídia brasileira. A formação é voltada para comunicadores, jornalistas, produtores de conteúdo, influenciadores, estudantes de comunicação e demais profissionais de comunicação que atuem como aliados na promoção da equidade racial.
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Edição: Sarah Fernandes
Contato: sarahfernandes@agenciamural.org.br
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